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Introdução à Teoria da Estrutura Retórica

 

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+ Definições

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INTRODUÇÃO À TEORIA DA ESTRUTURA RETÓRICA (RHETORICAL STRUCTURE THEORY: RST)

História

A RST resultou do trabalho de investigação em geração automática de texto, realizado por uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências da Informação (Information Sciences Institute) da University of South California. Cerca de 1983, parte da equipa (Bill Mann, Sandy Thompson e Christian Matthiessen) observou, enquanto trabalhava na escrita de textos assistida por computador, que não existia qualquer teoria da estrutura ou função do discurso descrita suficientemente em pormenor para programar a geração automática de textos.

Procurando dar resposta a esta lacuna, desenvolveu-se a RST, com base em estudos de textos provenientes de uma diversidade de fontes, e cuidadosamente editados ou preparados. Esta teoria possui, agora, um estatuto na linguística que é independente das suas utilizações computacionais.


Textos, Coerência e Estrutura

Na sua utilização quotidiana, um texto possui um tipo de unidade geralmente inexistente em qualquer recolha aleatória de frases ou orações. A RST proporciona uma explicação da coerência do texto.

Mas o que é que se entende por coerência? Uma possível definição de coerência é a ausência de sequências ilógicas e lacunas. Ou seja, cada uma das partes de um texto coerente possui uma função, uma razão plausível para a sua existência, evidente para os leitores e, além disso, causa a impressão de que não lhe faltam quaisquer partes. A RST centra-se na primeira parte – um papel evidente desempenhado por cada uma das partes.


Estruturas

A RST tem como objectivo descrever textos, mais do que os processos de criação ou leitura e compreensão dos mesmos, e propõe uma série de estruturas possíveis (diferentes tipos de unidades fundamentais cuja ocorrência pode observar-se no texto), que pertencem a dois níveis: o primeiro nível inclui a "nuclearidade" e as "relações" (muitas vezes designadas “relações de coerência” na linguística). Não estudamos, aqui, o segundo nível de unidades: os esquemas.


Relações de Núcleo::Satélite

O esquema estrutural mais frequente é aquele que representa duas unidades de texto (que, salvo raras excepções, são sempre adjacentes) relacionadas de forma a que uma delas desempenha um papel específico relativamente à outra. Utilizando como exemplo uma asserção seguida da evidência dessa mesma afirmação, poderemos observar que a RST estabelece uma relação de "Evidência" entre as duas unidades. A relação também pressupõe que a asserção é mais essencial ao texto do que a evidência, pelo que a asserção se converte no núcleo da relação, e a evidência no seu satélite. Não existem regras de natureza absoluta quanto à ordem das unidades núcleo e satélite, apesar de poder encontrar-se, na maior parte das relações, uma ordem mais provável.

Existem, ainda, outros pares de unidades com características semelhantes:

Nome da relação

Núcleo

Satélite

Elaboração (Elaboration) informação básica informação adicional
Fundo (Background) texto cuja compreensão se facilita texto que facilita a compreensão
Preparação (Preparation) texto a apresentar texto que prepara o leitor para prever e interpretar o texto que se vai apresentar


No caso de uma relação não apresentar uma unidade central específica direccionada para os propósitos do autor, a relação denomina-se “multi-nuclear”. Um exemplo deste tipo de relação é a relação neutra de Contraste.

Nome da relação

Unidade

Segunda unidade

Contraste
(Contrast)
uma alternativa outra alternativa


Exemplo “Lactose”

Partindo simplesmente destas relações, poderemos demonstrar a análise de um texto. Apresenta-se, de seguida, o título e o resumo do início de um artigo publicado na revista Scientific American (traduzido). Para proceder à análise, dividiu-se o resumo em unidades numeradas.

Título:
1) Lactose e Lactase
2) A lactose é o açúcar do leite: 3) a enzima lactase quebra-a. 4) Devido à procura de lactase, a maioria dos adultos não pode ingerir leite 5) Em populações consumidoras de leite os adultos possuem mais lactase, talvez através de uma selecção natural.

Scientific American, Outubro de 1972


Como é constituída a análise

O processo de análise tem como objectivo proporcionar um método estruturado e bem definido para explicar parte dos elementos intervenientes na compreensão de um texto. O (ou a) analista, que geralmente se designa “observador” nos artigos sobre RST, afirma que, na sua perspectiva, as duas primeiras unidades (que explicam os termos lactose e lactase) têm como objectivo facilitar a compreensão do texto restante. Afirma, ainda, que a unidade número 2 proporciona dados adicionais acerca do conteúdo (ou, em geral, acerca da situação) apresentado na unidade número 1. Determina-se, assim, que as unidades 3 e 4 se encontram numa relação neutra de contraste. Todas estas observações se formulam em termos da intenção do autor, pelo que, por exemplo, se advoga que o autor pretendia que o leitor reconhecesse que as situações expressas nas unidades 3 e 4 são semelhantes em diversos aspectos, mas diferentes num aspecto em concreto que o autor pretende exprimir.

A teoria não impõe ao observador a necessidade de encontrar uma função estrutural para cada elemento do texto. Porém, tratando-se de textos criados cuidadosamente, praticamente todos os textos possuem uma análise, em termos de RST, que atribui um papel estrutural a todos os elementos do texto. (Por vezes, por razões de complexidade ou de ambiguidade, o observador pode encontrar mais de uma análise.)

Mais Relações

De seguida, apresentamos informalmente um conjunto de relações. Na página de definições apresentamos uma lista exaustiva de definições de relações e respectivos exemplos. O conjunto de relações é, em princípio, aberto, mas o conjunto apresentado acima, definido em Mann e Thompson, 1988 (actualmente o artigo central sobre a RST) tem-se mostrado eficiente para diversos fins. Na página de definições faz-se uma distinção entre relações de conteúdo e relações de apresentação: as relações de conteúdo exprimem partes do tema do texto; as relações de apresentação facilitam o processo de apresentação.

Acedendo a esta informação no website da RST, talvez seja pertinente ver mais alguns exemplos de análises RST. Na lista de análises não publicadas apresenta-se como referência "Sparky Lived!"; na lista de análises publicadas apresenta-se como referência "It's not laziness". Este artigo introdutório baseia-se nos outros exemplos do website, bem como na bibliografia.

Nome da relação

Núcleo

Satélite

Alternativa (anti-condicional)
(Otherwise)
acção ou situação resultante da ausência de ocorrência da situação condicionante situação condicionante
Antítese
(Antithesis)
ideias que o autor privilegia ideias que o autor não privilegia
Avaliação
(Evaluation)
uma situação comentário que avalia a situação
Capacitação
(Enablement)
uma acção informação que se destina a ajudar o leitor a executar a acção
Causa involuntária
(Non-volitional Cause)
uma situação outra situação que causa a primeira, sem ser causada por uma acção voluntária
Causa voluntária
(Volitional Cause)
uma situação outra situação que causa a primeira, através da acção voluntária de uma pessoa ou pessoas
Circunstância
(Circumstance)
texto que exprime os eventos ou ideias que decorrem no domínio contextual domínio contextual, situacional ou temporal
Concessão
(Concession)
situação que o autor afirma situação aparentemente inconsistente face ao núcleo, mas que o autor também afirma
Condição
(Condition)
acção ou situação resultante da situação condicionante situação condicionante

Elaboração
(Enablement)

informação básica informação adicional
Evidência
(Evidence)
uma afirmação informação que tem como objectivo conseguir que o leitor concorde com a afirmação
Fundo
(Background)
texto cuja compreensão se facilita texto que facilita a compreensão
Interpretação
(Interpretation)
uma situação interpretação da situação
Justificação
(Justify)
texto informação que sustenta o direito do escritor a escrever o texto
Motivação
(Motivation)
uma acção informação que tem como objectivo aumentar o desejo do leitor no sentido de executar a acção
Propósito
(Purpose)
uma situação intencional intenção que se encontra por detrás da situação
Reformulação
(Restatement)
uma situação reformulação da situação
Resultado involuntário
(Non-volitional Result)
uma situação outra situação que é causada pela primeira, sem ser provocada por uma acção voluntária
Resultado voluntário
(Volitional Result)
uma situação outra situação que é causada pela primeira, através da acção voluntária de uma pessoa ou pessoas
Resumo
(Summary)
texto um breve resumo do texto
Solução
(Solutionhood)
uma situação ou método que satisfaz a necessidade, total ou parcialmente uma pergunta, pedido, problema ou outra necessidade

 

Relações multi-nucleares

Para além do esquema mais frequente de núcleo e satélite, existem, também, relações sem um único núcleo, tal como acontece com a relação de contraste, como se referiu anteriormente. Estas relações, que se designa multi-nucleares, são:

Nome da relação

Unidade

Outra unidade

Contraste
(Contrast)
uma opção a outra opção
Lista
(List)
um elemento elemento seguinte
Sequência
(Sequence)
um elemento elemento seguinte
União
(Joint)
(sem requisitos) (sem requisitos)

 

Observadores e definições

O objectivo da RST é facilitar a análise de textos. Embora exista uma convenção gráfica para representar as estruturas de um texto, as relações que se observam num texto explicitam-se, sobretudo, através das definições das relações e outras estruturas da RST. A extensão da lista inicial de relações é possível sempre que a lista com a qual se está a trabalhar não é adequada.

Em que é que consiste efectivamente a análise? A análise é um meio simbólico através do qual um leitor informado sobre a teoria pode explicar a unidade, a ligação e a coerência de qualquer texto escrito comum, através de afirmações explícitas.

Cada uma das relações possui uma definição. A definição especifica tudo aquilo que o leitor de um texto deve considerar como verdadeiro, com a finalidade de estabelecer a relação em questão entre duas unidades de um texto.

Seguidamente, apresenta-se de forma breve uma definição comum da relação “Condição”. A definição ilustra a definição propriamente dita, bem como o formato geral de todas as definições. A definição pode ser aplicada de forma sistemática por um observador ou observadora, a designação atribuída ao analista na RST.

Condição
Elemento de definição Análise do observador
condições no núcleo, N: (nenhuma)
condições no satélite, S: S apresenta uma situação hipotética, futura, ou, possivelmente, não realizada (relativa ao contexto situacional de S)
condições na combinação de N + S Realização da situação apresentada em N depende da realização da apresentada em S
o efeito (a intenção do autor ao utilizar esta relação para se dirigir ao leitor; nunca se encontra vazio) R reconhece de que forma a realização da situação apresentada em N depende da realização da situação apresentada em S
local do efeito (derivado do efeito): N e S

Uma vez que o efeito nunca se encontra vazio, todas as observações ou conclusões do observador numa relação conferem ao autor uma intenção na escolha das unidades de texto unidas pela relação. E considerando que uma análise que atribui um papel a cada unidade também atribui uma intenção, possuímos, pois, um motivo de existência para cada elemento do texto.

O observador de um texto examina o texto e encontra combinações consistentes de unidades e de relações (ou de outras estruturas) que compreendem todo o texto. Assim, o texto pode possuir mais de uma análise, seja porque o observador encontra situações de ambiguidade, seja porque pensa que a intenção do autor se explica melhor através de uma combinação de diferentes análises. Esta combinação, provavelmente, não pode ser representada através de uma estrutura em árvore; porém, as combinações em si são bastante raras.

A "forma abreviada" de apresentação da definição acima referida tem como objectivo evidenciar o carácter epistemológico das observações. Em cada uma das conclusões do observador apresentadas, o observador declara que "É plausível para o observador que é plausível para o autor do texto que <a conclusão> está correcta."

A principal influência na organização e pormenor das definições foi permitir o processo de observação em todos os casos.

Exemplo de análise do texto “Darwin” com argumentos

Este é um exemplo de análise, que parte de um resumo de um artigo publicado na revista Scientific American, em Maio de 1986, intitulado "Darwin como geólogo" (traduzido). Para efeitos de análise, dividiu-se o texto em cinco unidades, de um ponto de vista sintáctico, e incluiu-se o título como uma unidade adicional.

1) Darwin como geólogo 2) Actualmente, a tendência é considerá-lo um biólogo, 3) mas durante os cinco anos que passou no Beagle, a sua actividade principal foi a de geólogo, 4) e ele próprio via-se como geólogo. 5) O seu trabalho constituiu um importante contributo para esta área.

O diagrama RST correspondente é o seguinte:

 

Argumentos do observador:

A tabela que se segue mostra os argumentos do observador ao estabelecer a primeira relação de Evidência no texto sobre Darwin:


Relação

Unidade nuclear

Unidade satélite

Condição genérica abreviada

Argumento específico completo

Evidência 1-2 3 O leitor pode não acreditar no núcleo de forma satisfatória para o autor O observador considera plausível que o autor considerou plausível que o leitor possa não acreditar que Darwin trabalhou como geólogo de forma satisfatória para o autor
  1-2 3 O leitor aceita o satélite ou considera-o credível O observador considera plausível que o autor considerou plausível que o leitor aceita ou considera credível que Darwin trabalhou como geólogo
  1-2 3 A compreensão do satélite por parte do leitor aumenta a sua aceitação do núcleo O observador considera plausível que o autor considerou plausível que o leitor tende a aceitar que Darwin trabalhou como geólogo se compreender que o trabalho principal de Darwin no Beagle foi o de geólogo
  1-2 3 Aumenta a aceitação do núcleo por parte do leitor O observador considera plausível que o autor desejaria aumentar a aceitação por parte do leitor do facto de que Darwin trabalhou como geólogo

Estes argumentos, juntamente com os argumentos correspondentes às outras duas relações de evidência e de concessão, constituem um grupo de aproximadamente 16 argumentos, e são essencialmente equivalentes ao diagrama.

A possibilidade de explicitar os argumentos da análise permite comparar análises baseadas na RST com outras análises, desde que as outras análises sejam suficientemente explícitas.

Comunicação implícita baseada nas relações retóricas

O observador encontra-se numa posição semelhante à do leitor do texto, excepto quanto à natureza explícita da análise. As relações que o observador considera plausíveis são, geralmente, plausíveis também para o leitor.

As relações, bem como as orações do texto, possuem conteúdo comunicativo próprio. Consideremos, por exemplo, que, uma vez que Darwin contribuiu de forma significativa para a geologia, podemos assumir este facto como evidência de que Darwin trabalhou como geólogo. A noção de evidência, embora não se torne explícita em parte alguma do texto, é comunicada através dele. Se modificarmos o texto de forma a negar a ideia de que a sua contribuição é evidência desse trabalho como geólogo, o texto torna-se incoerente, mas não contraditório. A noção de evidência, expressa de forma implícita, faz parte do conteúdo comunicativo do texto. Diversos artigos sobre a RST, sobretudo entre 1985 e 1992, designam estas contribuições implícitas por “proposições relacionais” (relational propositions). Esta comunicação implícita contribui significativamente para a possibilidade de "ler nas entrelinhas" e de perceber que é frequente encontrar comunicação implícita ao ler um texto.

Resumo

Uma vez que a RST proporciona, geralmente, uma análise para qualquer texto escrito cuidadosa e coerentemente, e uma vez que esta análise avança uma explicação motivada pela razão pela qual o autor incluiu cada um dos elementos no texto, a RST proporciona uma explicação da coerência textual independente das formas lexicais e gramaticais do texto. Graças à sua especificação do papel do observador, também proporciona uma base de discussão da objectividade e subjectividade da análise. Além disso, proporciona uma base funcional para o estudo das formas específicas do texto relevantes para o discurso: marcadores de discurso e outros marcadores formais da estrutura do discurso. Sempre que a RST identifica a estrutura interna de uma oração, estabelece-se uma base de estudo das funções de diferentes métodos de união de cláusulas, e, de forma mais abrangente, as relações entre estas formas de estrutura discursiva e outros elementos de coesão.

Bibliografia

Mann, W.C., e Thompson, S.A. 1988. Rhetorical Structure Theory: Toward a functional theory of text organization. Text, 8 (3). 243-281.

 
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